segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

A improvável história de Benedito Rafael





















A vontade de nascer de Benedito Rafael foi tornada pública dois dias antes do natal. A futura mãe lia e comentava títulos de revistas cor de rosa com duas amigas que também liam e comentavam títulos de revistas cor de rosa. Havia um bule de porcelana branca em forma de elefante, havia chávenas vermelhas, quadradas, havia migalhas e vestígios de manteiga derretida em guardanapos de papel.
Numa mesa à esquerda, estava para ali remitido o pai, o futuro avô, encostado à janela, sozinho. A ditadura do tamanho das páginas do jornal Expresso não permitia companhia à mesa. O anúncio do nascimento de Benedito Rafael foi um objectivo a longo prazo. A futura mãe não tinha namorado, nem pensava em casar. Não tinha nada disso, só tinha um nome: Benedito Rafael. Aquele filho era uma certeza absoluta para um dia mais tarde, foi assim comunicado aos mais próximos, avô incluído, enquanto os títulos das revistas cor de rosa apareciam e desapareciam do tampo da mesa das raparigas de treze anos. O barulho da moagem do café esteve sempre por baixo deste acontecimento.

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