quinta-feira, 29 de setembro de 2011

As mulheres desta quarta-feira foram estas





















A ecografia do primeiro relógio com útero é o resultado da colheita efectuada por um telefone inteligente, antes do meio-dia, em Braga, no corredor destinado ao corredores, numa loja de desporto, uma ilha, num deserto de povoamento e casario, na freguesia de Dume. Aparentemente são doze fetos de relógio, podendo ser mais, podendo haver outros, não se estimando quantos, sem o resultado de uma ecografia tridimensional que ainda não foi efectuada. Um rapariga deixou cair quatro t-shirt´s embaladas cada uma no seu saco de plástico, eu apanho uma, ela agradece, e eu vejo um colete cinzento com letras azuis que é um uniforme e guardo no bolso a primeira ecografia de um relógio com útero.
Um croissant com chocolate vem parar ao tampo de uma mesa branca, nas mãos de uma rapariga de cabelo loiro com riscos pretos. Já não estamos numa loja de desporto, estamos numa casa de doces e quando saímos de lá, um café é o último dos pedidos.
Um telefone toca. Uma mulher com voz de rapariga está do outro lado a pedir a confirmação de uma consulta para amanhã e assim o fez na melhor das horas, porque a pergunta foi a tempo de adiar o médico para sexta-feira à tarde, no regresso de uma ida e volta a Lisboa de um dia para o outro.
A presença de uma senhora bonita tem, em complemento do sorriso, a entrega de um bilhete com os dois sentidos pagos entre o Porto e Lisboa no comboio que sai de Campanhã aos treze minutos para as dez horas da manhã.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

De quando o corpo da mulher não mente




















Shakira, pessoa do sexo feminino que quando quer vender um single (ainda há singles?) nos pergunta se o queremos comprar com as ancas, e lá acaba por nos abrir os olhos para a música e a música faz ondas e então, insistindo, ficamos absolutamente, e sem regresso, covencidos de que os quadris não mentem. E muito cuidadinho com a conversa, as redes sociais aceleram as mensagens, e o defesa central do Barcelona corre mais depressa do que a internet.
Ora temos então que em deixando quietas as ancas mais conhecidas da Colômbia e apontando o caminho da conversa à Austrália, mas permanecendo no essencial do corpo da mulher, por lá se repete até não poder mais que quem não mente é o coração.Vem na letra de um single (mais afinal ainda há ou não singles?) da Gabriela Cilmi, outra pessoa dos sexo feminino, que tem a supresa de ter 19 anos e que dança, canta, mas não digo como dizem na televisão que encanta para fugir a uma chuva de estalos. Devaneios de um homem que não é solteiro (destes singles já há muitos).

(relógio de cozinha)

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Ficar a saber




















Fiquei a saber, hoje, da existência de um muro itinerante, nos Estados Unidos, chamado Muro Ambulante, que percorre as cidades. Fiquei a saber que morreram cinquenta e nove mil duzentos e oito soldados americanos na Guerra do Vietname, e que os nomes dos mortos estão gravados nesta réplica de parede, a uma escala reduzida do Muro original, que está em Washington. Fiquei a saber do muro no livro A Mancha Humana, de Philip Roth, fiquei a saber que existe uma palavra chamada caçanho na página número duzentos e cinquenta e seis, fiquei a saber que a palavra caçanho não vem nos dicionários portugueses, e porque perguntei, fiquei a saber que dois dos meus amigos sabem o significado de caçanho e o partilharam comigo.
Fiquei a saber que o silêncio do ex-combatente Les Farley diante do muro queria dizer morte e que o ex-combatente Swift ouvia o muro a chorar. Fiquei a saber o preço da minha despesa, setenta cêntimos por um café, com vista para a cor verde das dunas e branca, suja, da areia. Fechei o livro e fui ao ginásio, onde fiquei a saber que uma parede amarela é um lugar belíssimo para colocar um relógio.

domingo, 25 de setembro de 2011

A importância da tuberculose nas relações humanas




















As pessoas portadoras de incertezas sobre a totalidade do significado da palavra bacilo, abrem o dicionário na segunda letra do abecedário, procuram bacilo e para ficarem esclarecidas lêem o significado: vibriões! Neste caso, as pessoas portadoras da tal incerteza avançam lá mais para o escopo do dicionário, escopo quer dizer fim, e procuram vibrião. Vibrião é o "género de bactérias alongadas com forma curva ou inflectida". Isso é um vibrião. Isso é um bacilo.
Um dia, na Alemanha de há mais de cem anos, numa cidade chamada Clausthal, nasceu um rapaz com três nomes próprios chamado Heinrich Hermann Robert. O rapaz quando foi grande quis ser médico, foi o doutor Koch, Robert Koch, responsável pela descoberta do bacilo causador da tuberculose.
Comtemporâneo do alemão Koch, um inglês nascido em Gloucester com dois nomes próprios, William Ernest, William Ernest Henkley quando foi grande. E foi poeta. Aos 53 anos perdeu a vida para tuberculose. A doença que lhe tirou o corpo não tinha como saber da poesia. Estragou-lhe o pulmões, a laringe, os ossos, as articulações. A pele. A perna. Estragou-lhe isto tudo, mas em nenhum desses lugares lhe encontrou a poesia, e ele, num dia da luta contra a morte, deixou um papel e um título, Invictus, e um corpo imortal. Essa dúzia de versos chegou a toda ao país inteiro, foi como as pestes, em silêncio, de corpo para corpo, ultrapassou os limites da língua inglesa, traduziu-se, viveu para sempre. Na África do Sul, saiu com Mandela da prisão de Robben Island, para a mão do capitão da equipa de rugby, para as mãos de todos os outros jogadores, para as bancadas, para os estádios, para as cidades, foi devolvida ao mundo inteiro e chegou aqui porque um dia o limite da dor de um poeta encontrou as palavras certas e cumpriu a missão.

(O estádio da fotografia não é na África do Sul. Está aqui por ser um estádio. E por ter um relógio)

Momento capilar obrigatório




















Bem giro o relógio do meu cabeleireiro!
O melhor cabeleireiro de Vila Nova de Gaia trabalha desde 1985, completou  vinte e cinco anos de carreira no ano passado e recebeu este Breil no dia em que a esposa fez por marcar a data. Parabéns, abraços e beijinhos aos dois.
Episódios de barbeiro não faltam na vida de um homem. Destaco um: quando fui servir de modelo vivo no exame para a carteira profissional e o babyliss me esquentou a nuca. Dizer episódios de barbeiro foi só para beliscar o único homem de tesoura nas mãos a quem confio as minhas orelhas.

Bebe água




















Relógio do José Vaio, no pulso do José Vaio, em cima do prato da sopa do José Vaio, sentado a uma de duas mesas de comunicação social, num jantar de homenagem, da Junta de Freguesia de Melres ao FC do Porto ( Melres é em Gondomar, aos que perguntam). E eu, ao lado.
E eu ao lado direito, e eu a pedir ice tea para o copo, em vez de sumo de laranja, as duas opções em jarros de vidro nas mãos do empregado, e eu a pedir ice tea e adivinhar-me fresco de limão por dentro, mas não, o ice tea é de pêssego, mas sabe a laranja. na volta do empregado ele diz que traz Cola eu sonho Coca-cola e não é, é um xarope castanho, com gás, e sabor a limão.
Pode ser água?

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

O desvio bendito




















Um telefone toca, às duas horas da tarde, no interior de um carro, estava a ponte da Arrábida no horizonte. O fato, pendurado nas costas do lugar do morto, convém não esquecer de o levar à levandaria, obrigado pelo lembrete, lá se faz então a curva, mesmo antes da ponte, na saída da auto-estrada para o centro comercial. Ficou o fato a lavar a seco, com protecção perguntou a senhora, com protecção respondeu o senhor, e guarde-me o cabide, disse, enquanto vou ao supermercado.
Comprou fio dental  para o dentes de marca branca e foi para o meio dos livros porque se tinha esquecido em casa do livro que está a ler. Encontrou as últimas entrevistas do Roberto Bolaño, foi às páginas do fim e numa diagonal leu o Bolaño a falar de futebol e dizer que era canhoto. Não quis saber de mais. Fechou o livro, comprou e pagou. Que maneira belíssima de encher o tempo até à hora do Porto-Benfica desta noite.

(fotografia de Roberto Bolaño, Últimas entrevistas, tirada à porta de uma loja de roupa de senhora)

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

A anatomia de um telefonema





















O braço que não tem relógio está a segurar o telefone e a tentar marcar uma entrevista há vinte e quatro horas. Prosseguem as negociações com o intermediário do entrevistado. Confesso não compreender as pessoas que não conseguem dizer o que querem dizer e mandam dizer o que querem dizer, perdendo tempo, bloqueando o contacto directo, complicando tudo, incluindo a capacidade detalhar uma conversa telefónica, com receptor, emissor, código e uma mensagem impossível de transmitir.

Estava a dar esta música
















estava a dar esta música 
Esta manhã não houve verão na marginal. Os ciclistas e os corredores acordaram de manga comprida e muitos carros ficaram a dormir. O aslfalto está livre, o semáforo está vermelho, a hora ainda não deixa entender se é o nevoeiro esta cor cinzenta ou se então é um corpo dormente ao volante. Lá muito ao fundo, o rio Douro embacia o Porto, o Porto está a acordar dentro de uma nuvem, nós estamos a caminho e o dia está à nossa espera com o rosto fechado.
(este relógio é deste carro.)

E apenas dois minutos antes...

















Dois jornalistas estão sentados e afundados nos computadores portáteis, três fotógrafos espalharam-se pela sala da melhor forma, evitando o ponto de mira uns dos outros, ao fundo cinco máquinas de filmar estão prontas a disparar, existem conversas cruzadas de homens e mulheres na fila para os copos de água, o lugar da rádios faz o teste de som, os fumadores enviam sinais para o interior a dizer que ainda não, que o treinador ainda não desceu, e após três falsos alarmes a coisa acontece, o treinador diz boa tarde e amanhã (hoje) vem tudo nos jornais.
(este relógio é do Paulo)

A oficina





















Custo desta produção: 23 euros. Factura detalhada: dois ferros, pulseira preta em pele e uma pilha. A máquina estava para há dez anos e a ressurreição acabou por marcar o reencontro com a amiga Patrícia. Os encontros com a Patrícia têm sido casuais ao longo da última década e não sei se ela ficou a pensar "este gajo usa o mesmo relógio há dez anos!" sei que ela estava feliz da vida ao lado da mãe, ao balcão dos relógios. Nestes anos todos a Patrícia deixou de ser professora, regressou à faculdade e hoje é enfermeira. Este meu velho relógio teve alta ontem ao fim da tarde.

As cores de Sporting, Porto e Benfica





















Paulo Futre, sentado numa poltrona azul, longe de um frigorífico verde onde está escrito o verbo esbardalhar. A imagem termina numa bola vermelha ao fundo. A carreira em Portugal, do canhoto mais espectacular do nosso futebol, está toda nesta fotografia, devidamente coroada com um relógio parado, a assinalar cinco para meia-noite.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

O senhor das notícias





















O efeito dominó da uma hora da tarde a quarenta e oito horas de um jogo do Futebol Clube do Porto: o treinador sai do gabinete junto ao relvado, um telefone avisa outro telefone que o treinador está a entrar no carro, o treinador entra, o director conduz, os descem para sala de imprensa e em menos de um minuto os dois chegam perto do portão e estacionam o carro. Os últimos fumadores apagam os cigarros, sopram o fumo, entram na sala de imprensa e dizem está aí, as objectivas apontam para a porta, todos os olhos apontam para a porta, o treinador entra, aí está, o director entra, pode começar a conferência de imprensa, o senhor das notícias vai gravar para contar.

Meio-dia no Porto





















À meia-noite, em Paris, Woody Allen, 75 anos, escritor, comediante, músico, actor, realizador, cineasta, apresenta o filme com o número 75, irrita Sarkozy, enciúma o vigésimo terceiro presidente francês, tira a primeira-dama do Eliseu e faz cinema com a história de um escritor argumentista de Hollywood que avança pela cidade à noite e encontra coisas e pessoas. A esta hora, no Porto, contaria autocarros vazios, pessoas apressadas, gasolineiros com as mãos nos bolsos e um piquete da EDP a mudar um poste de iluminação há quatro horas.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

À prova de água





















Este corpo à prova de água tem mais de dez anos. Parou num dia 21, não se sabe de que mês porque os relógios não sabem dizer os meses, nem se sabe o ano, porque estes relógios também não contam nada sobre os anos a ninguém.  Parou num dia 21 à seis horas e vinte e sete minutos, não se sabe se foi da manhã ou da tarde, estes exemplares só trabalham meio dia de cada vez. E um segundo. Seis horas, vinte e sete minutos e um segundo.

Magia de trazer por casa





















O lugar onde me sinto mais perto de casa quando estou fora de Portugal é uma perfumaria qualquer, no free-shop do aeroporto, na rua, num centro comercial, onde quer que seja. E pode ser um gesto inconsciente, ao passar por acaso ao lado de uma fragrância e lá está a mulher desta imagem, ou então pode ser numa vontade de ir, súbita ou programada, atrás do frasco com a cor do perfume dela. É magia de trazer por casa.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Um coelho perdido no jardim





















Carla tem uma filha. A Carla soltou o cabelo da filha e o elástico ficou esquecido no pulso. O Pedro Passos Coelho pede a um(a) jornalista licença para fazer uma observação de carácter genérico e nós, pessoas habituadas a viver fora das páginas dos jornais, não sabemos o que quer dizer em concreto uma observação de carácter genérico. Está basicamente a fazer floreados para dizer que os portugueses gastam muito dinheiro com a educação. Logo ele, que tem o jardim mais caro do mundo.

Pequeno-almoço em Acapulco





















António filma, a Bia  pergunta, a RTP trabalha em Viana do Castelo, num dia de céu limpo, que tinha tudo para ser feliz, mas não, para lá do muro alto e do portão que está aberto há 85 mulheres a quem acabou de ser indicado o caminho do desemprego.
Entrámos e saímos da vida de todas aquelas pessoas em menos de duas horas. Fizemos o que tínhamos a fazer, o nosso trabalho, e pausamos a reportagem e fomos tomar o café que a Bia nos andava a prometer há duas semanas. Um pão com queijo e cinco cafés, em cima da mesa, e uma conversa sobre a tristeza dos números dos desemprego no distrito. Cinco minutos na esplanada da Churrasqueira Acapulco.

Desfocar o António de há dez anos faz parte do processo de seguir em frente




















Falta uma semana para a deslocalização. Vamos sair da Boavista, vamos para Matosinhos. Às sete e meia desta manhã de segunda-feira, esvaziei as gavetas da secretária  e com elas enchi uma caixa de cartão. Esvaziei (o verbeo esvaziar é feio) as duas pratelerias que foram atribuídas num armário de parede e com elas enchi outra caixa de cartão. Dez anos cabem em duas caixas. Dez anos e esta fotografia: uma camisa Bruno Belloni, que já não existe ( nem a marca nem a camisa), e um jantar de gala de um Boavista que deixou de existir e do qual sinto uma falta que não cabe no interior de duas caixas de cartão.
(Desfocar o António de há dez anos faz parte do processo de seguir em frente)
(Um dia destes vais a casa dos pais procurar relógios.)

Detalhes do último regresso





















A madrugada de quinta para sexta-feira, a espera das malas, os penútlimos a ir embora, só um pouco antes dos técnicos do equipamentos do Braga conseguirem fazer cinco torres com as caixas metálicas da logística de um jogo europeu fora do país. Havia dois táxis nas chegadas do aeroporto às quatro da manhã, apanhámos obviamente o primeiro, e fizemos, tudo leva a crer, o último regresso à Boavista. A partir de segunda-feira, as nossas corridas, do aeroporto para o "quartel", custam menos dinheiro à casa. O "quartel" passa a ser em Matosinhos, vamos ter outros soldados, outros aliados, novas causas, mais batalhas, novos dias.

domingo, 18 de setembro de 2011

Dezanove minutos para as onze





















Agradecer esta imagem ao lixo. Ao facto de os contentores do lixo, grandes, verdes, de plástico,  ficarem na rua principal, fora desta praceta, longe desta luz tropical, deste clima secreto, longe deste silêncio desta noite, e de todas as noites. Agradecer esta imagem ao lixo, o saco estava cheio, havia disponibilidade para,  e vontade apanhar ar. E só assim ter a oportunidade de apanhar esta hora, no dia em que a mulher vai jantar  fora, de estar sozinho, antes de subir ao segundo andar e de fazer a mala.

O regresso dos homens e das mulheres





















Últimos minutos em Birmingham: o porta-fatos ao ombro, a nó da gravata mais solto, o colarinho desabotoado, trinta e oito libras no bolso, não vão ser cambiadas, a perfumaria no caminho da porta de embarque e uma pausa. A prateleira DKNY, de senhora, tem os frascos todos menos o rôxo, não se vê uma empregada, é difícil encontrar uma, mas encontra-se, e pergunta-se, Donna Karan, perfume, the purple one. Não há.
A cervejaria está a fechar as portas, o empregado de colete preto e camisa branca apoia-se na vassoura quando pára e responde (em inglês): desculpe, estamos fechados. Entretanto abriu a porta 47, o avião esperou uma hora para levantar porque faltava o documento da centragem do aparelho. O papel veio, nós fomos embora, viemos de Birmingham, chegamos ao Porto. Trouxemos este relógio da parede no check-in.

sábado, 17 de setembro de 2011

Os problemas de uma família com 87 pessoas





















O João está à espera de um dos responsáveis pelas instalações do St.Andrew´s, Estádio do Birmingham City, na véspera do jogo com o Braga. Aguarda a autorização para ir ao relvado gravar informação para o Jornal da Noite desse mesmo dia, autorização que chegou depois das 6 horas da tarde. O relógio na parede diz que estamos há 12 horas a pé e nessa altura ainda não sabemos que vamos ficar mais 9.
Lá dentro, a bancada de topo, poente, tem metade da lotação reservada para os adeptos do Sporting de Braga. No dia seguinte, o jogo é apitado por um árbitro alemão de apenas 33 anos e esse sector do estádio é todo azul, azul das cadeiras. Ao intervalo, o Chris, que nos conduziu ontem ao relvado, passa em frente à bancada de imprensa com uma folha com o número de entradas, 21.729, e por baixo desse número tem escrito o número 87,  a soma exacta de todos os adeptos do Braga no St.Andrew´s.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Braga acima de Braga





















A primeira vitória em Inglaterra; a primeira vitória em nove jogos fora de casa nos jogos da antiga UEFA e da nova Liga Europa; a primeira vitória europeia da época; o terceiro jogo europeu sem perder; o sétimo jogo da época sem derrotas; o segundo lugar no campeonato; o primeiro no Grupo H; e meia equipa foi embora; e meia equipa mais barata entrou; o adeus a Domingos; o olá a Jardim. Depois de ter perdido no fim (Dublin), estar a ganhar o princípio (nova equipa).

Um café no Rio de Janeiro





















A irmã, professora desde o início do mês anterior, chegou a casa sem uma fatia considerável do ordenado no dia em que recebeu o primeiro salário. No caminho de volta da escola voltou a olhar para a montra, voltou a entrar na loja, terá voltado a perguntar o preço, apontou a dizer vou levar este, e pagou a conta com a tal fatia que não chegou a casa. O irmão anda com ela, a fatia, no pulso, há 20 anos. O braço que nos mostra a história está a tapar o caminho para as letras da cidade do Rio de Janeiro, de onde veio a t-shirt cinzenta do homem, irmão da professora, jornalista, participante voluntário deste episódio.

Perceber qual é a piada de Birmingham





















Iria estar frio ou não iria estar frio? Não esteve. Haveria boa internet para enviar as reportagens ou não haveria? Não houve. E isso dificultou as coisas? Dificultou. Atrasou muito o trabalho? Atrasou. E ainda assim valeu a pena? Valeu. Claro que valeu. E o Braga sempre ganhou pela primeira vez em Inglaterra? Ganhou. E a cidade, Birmingham, tem alguma piada? Tem. É a segunda maior cidade de Londres.

E porque andámos a brincar às cidades e aos nomes dos países durante dois dias, no passeio a pé a seguir ao último almoço, um amigo nosso partilhou a informação ferroviária mais surpreendente dos últimos tempos: "a viagem de comboio só demora 24 minutos daqui de Birmingham até Inglaterra".

O Boeing do Porto





















Há duas ou três caras familiares à porta do avião. A tripulação não é estranha. O espaço na classe executiva   responde de uma vez à dúvida da pergunta "de onde é que eu conheço esta gente e este avião?". A resposta é esta: este avião trouxe o Porto de Vila-Real e  foi neste espaço que os jogadores dançaram, com colunas e ipads na mão, como quem repete a imagem de um golo, uma música do Jambao. Tinha o Porto acabado de se qualificar para a final de Dublin. O Braga arranca para a liga Europa nas que levaram o Porto à vitória.
Só falta agradecer ao jornalista que fez a pose: obrigado.

O cilindro português





















Tivemos de correr contornar uma situação imprevista. O check-in para Birmingham tinha acabado de ser feito e era preciso levar um cilindro com um tripé à zona de despacho da bagagem fora de formato. Nesse exacto segundo, aparece, no raio da nossa acção um grupo de funcionários corpulentos do Shaktar Donetsk com toda a tonelagem de equipamentos, mantimentos, medicamentos e alimentos dos ucranianos. O que fazer para evitar meia hora na fila por causa de um tripé? Fazer como o Porto tinha feito na véspera: saímos de uma situação de desvantagem, corremos mais depressa, chegamos na frente. Despachamos o rolo e fomos tomar café. Durante a tarefa de fazer horas aconteceu-nos a coincidência de haver à nossa frente os jogadores de futebol do Braga e do Shaktar, lado-a-lado como na Liga dos Campeões da época passada. Neste cruzamento, os ucranianos vinham de uma derrota no Porto e os portugueses estavam a caminho de tentar uma vitória em Birmingham.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Desde 1853





















O Miguel sujeitou-se ao episódio do relógio numa sala de edição de imagem. Deixou-se estar a fazer o que estava a fazer e eu peguei no braço, levantei-o, estudei vários enquadramentos, testei um número reduzido de filtros, escolhi este filtro e este ângulo à terceira tentativa, devolvi o braço esquerdo ao Miguel, que continuou a fazer o que estava a fazer, agradeci e fui embora.
Porque é que o teclado é às cores? Não perguntei ao Miguel, mas acho que fica bonito na fotografia.

Surpresa





















Este relógio chegou a este pulso num dos últimos dias de verão. Este joelho esquerdo que hoje está direito, nesse dia estava partido, e eu estava deitado a comandar a melhor forma de repetir os canais de televisão. O efeito de uma mulher bonita num homem que não está à espera é intemporal. Ela entrou, sorriu, deu um beijo, mandou fechar  os olhos e abrir as mãos, mandou a abrir a caixa. O resto da história vem na fotografia tirada em Celorico de Basto. A última de três.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

O alfinete de peito





















Por baixo das nuvens a estrada para a Lixa não é redonda, o céu não tem nuvens  este lugar não parece neste mundo. Curva a seguir a curva vem outra curva e só ao fim de vinte minutos de curvas, perto do fim da rua, aparece no caminho o centro escolar de Mota, em Celorico de Basto.
E à porta uma banda de música, o som dos metais, a voz do padre a carregar nos erres, os políticos, os meninos e os paisinhos, como era, há muito tempo, em Portugal. Um maestro com gravata rosa, uma clave dourada na lapela, com brilhantes aplicados. Que raio de broche.

banalidades da primeira pessoa do singular





















Aconteceu na terra onde nasceu o pai do Francisco quando eu estava a matar o tempo enquanto os meninos tocavam flauta e os professores e as professoras cantavam. Fermilde tem um centro escolar novo e pode, e deve, orgulhar-se de o ter, as crianças merecem lugares bonitos e as condições perfeitas para crescerem sorridentes e um dia as bocas vão voltar a ter o dentes todos e os sorrisos serão não como as camisolas do Espinho mas como as camisolas do Real Madrid.

Era esta hora (a da fotografia) quando terminou a inauguração e a bandeira saiu da frente da placa com o nome dos políticos e o padre foi embora.
O relógio começou a contar.