quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Em nome do pai



Com o número 21, de costas para nós, está um brasileiro de Curitiba, que só está ali por causa do pai: o pai é que o encorajou a jogar futebol com o pé esquerdo quando ele, Adriano, em miúdo, teve uma lesão gravíssima no pé direito. Em 2003 foi campeão do mundo de sub-20. Foi para Sevilha jogar mais de duzentos jogos de futebol antes de chegar a esta fotografia. A cara daquele rapaz mais alto ao fundo do Adriano também é muito futebol em nome do pai. O pai chama-se Carles, foi guarda-redes do Barcelona, é Busquets como o filho, Sérgio, o que aparece ao fundo do Adriano. Sérgio é catalão de Sabadel. Fez a escola no Barcelona B de Pep Guardiola. Este mais baixinho com o zero na camisola, tem futebol nota dez no pé esquerdo, no pé esquerdo e da cabeça aos pés. O primeiro contrato foi assinado num guardanapo de papel entre cafés num café, partilhados pelo conhecidissimo Carles Rexach e o desconhecidissimo Jorge Messi, pai deste Lionel. Dizer mais o quê? É um jogador à minha altura:1,70m. O rapaz de cabelo comprido tem pele azul-grená. Já vestiu as duas cores em mais se quinhentos jogos, mas esteve muito perto de não ter sido ninguém no futebol. O pai quis que ele abandonasse a bola quando ele se lesionou num ombro no tempo em que era guarda-redes. Ele guardou as luvas, mas não abriu os livros. Foi antes para ponta-de-lança e coisa não resultou. Foi antes para médio-defensivo e a coisa não resultou. Como já não podia voltar à baliza, por causa do ombro, havia apenas mais uma posição a ocupar antes de ser mandado embora pela porta pequena do futebol regional espanhol. Foi o melhor defesa jovem do Pobla de Segur. Foi para o Barcelona e aí já nem o pai insistia tanto nos estudos. Hoje chamam-lhe touro e Tarzan a este rapaz com ar de Sansão chamado Puyol. O sete é um dos pontas de lança mais baixos do mundo:1,75m. El guaje, que dizer o míudo e assim que o tratam. Em miúdo, com quatro anos, fracturou o fémur da perna direita. O pai, um mineiro que sonhava ter um filho futebolista, insistiu para ele chutar com o pé esquerdo e el hoje é um dos ambidestros mais famosos de Espanha. David Villa deixou Valência e o centro da área. Está a voar nas asas do Barcelona e continua nas bocas do mundo. Na outra asa, o autor deste golo, o dezassete, outro jogador à minha altura (1,70m), o único a marcar um golo em todas as competições do mundo numa só época. É o filho do senhor Ledesma. É o Pedro, Pedrito, Pedro Rodriguez, Pedro Rodriguez Ledesma. Os outros dois são os pais da melhor equipa de futebol do mundo. Estão no Barcelona desde quase sempre, conseguem ser qualquer um dos orgãos vitais deste corpo azul e grená que há-de sobreviver à passsagem do tempo.

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