Entrou na estação das Devesas, em Vila Nova de Gaia, sentou-se no lugar 36 A - era uma cadeira do lado da janela, de frente para Lisboa, e felizmente o comboio estava a viajar nesse sentido - aparentava ter menos de vinte anos, não tinha cara de português, e não era, era mexicano, da Cidade do México, tinha cadernos e mal se sentou começou a escrever neles, e ao escrever neles estava a contar coisas sobre os poetas reais visceralistas, ele próprio era poeta, sobre Quim Font e os princípios sexuais das filhas de Quim, Angélica e Maria, e qualquer coisa em fundo e muito ao longe e ao de leve sobre Ulisses Lima e Arturo Belano.
O mexicano chamava-se Juan Garcia Madero e foi posto por Roberto Bolaño no papel de narrador do capítulo inicial do livro Os Detectives Selvagens. Sentou-se no lugar onde eu estava sentado e tomou conta da minha atenção às dez horas da manhã, e não às onze, conforme diz este relógio de alta velocidade.
2 comentários:
Que livro, amigo Reis, que livro...
e que livro, que livro, que livro! amigo Carriço ;)
Enviar um comentário